terça-feira, 16 de outubro de 2007

30 ANOS DE HISTÓRIA

Hoje tem tropeiro? Tem sim senhor. Dia de jogo no Mineirão é sagrado. Prato predileto dos torcedores e um dos símbolos do Gigante da Pampulha, o tropeiro ganhou espaço e hoje é titular em dia de jogo. Mas o que é que o tropeiro tem? Tem arroz, ovo, bife de lombo, couve picada bem fininha, molho e um tempero que é segredo de estado. No comando desse time de ingredientes, uma jovem senhora de 64 anos que esbanja disposição e bom humor. Elvina de Oliveira Campos, ou melhor, dona Vina como é conhecida, bate um bolão quando o assunto é cozinha.

E logo adverte, “meu tempero nem minhas funcionárias conhecem”. Viúva há 19 anos e mãe de quatro filhas, dona Vina fez do tropeiro seu maior tesouro. A mão boa na cozinha ela herdou da mãe, mas foi com a irmã que aprendeu a receita que garante, é a mesma desde a inauguração do bar na década de 70. Depois, com a perda da irmã, a mestre cuca do tropeiro assumiu o comando do bar, cujo número 13, ao contrário das superstições, lhe deu muita sorte. Foi acompanhando a muitos jogos no Mineirão, que ela criou as filhas. “ Quando as meninas eram pequenas, eu as levava para o bar e as colocava sentada debaixo do balcão, perto dos engradados de cerveja”, relembra.

Gosto que passou de geração e contagiou a filha mais velha Eliane, braço direito da mãe no bar. “Hoje tenho 40 anos e 30 de Mineirão. Lá conheci meu marido e hoje ele e meus filhos nos ajudam a manter o negócio”, conta. Cruzeirense confessa, dona Vina faz questão de dizer que torce muito em dia de jogo do time celeste. E é de uma janelinha que fica na cozinha do bar que ela vibra com o time. “Eu me lembro de um jogo, quando o Ronaldinho ainda jogava pelo Cruzeiro. Eu espiava pela janela quando vi ele fazendo aquele gol memorável”. Durante os jogos, ela e sua equipe de 15 funcionários dão conta de 60 kg de arroz e 20 kg de feijão, tudo feito na hora. “ No meu bar é proibido vender comida fria”, decreta. Tanta dedicação e carinho fizeram de dona Vina figurinha carimbada no estádio. Coleciona fãs famosos e se orgulha ao contar que sua receita já foi atração do programa da Ana Maria Braga. Entre sues fãs famosos, ela cita Dadá Maravilha, Zezé Perrella e Eder Aleixo.

Tanto reconhecimento e motivação, que segundo Eliane, foram fundamentais na história recente da família. Em 2005, perderam a concessão do bar no estádio e passaram por momentos de aflição. “Foi terrível. Não imaginávamos nunca ficar fora. Tivemos que erguer a cabeça e seguir em frente”, conta Eliane. No mesmo ano abriram o restaurante Bar do 13, no Planalto. Durante a conversa, mãe e filha relembram alguns casos engraçados. “Tem uma cliente nossa que trouxe o filho de 8 anos aqui no restaurante, pois ele queria saber se era a mesma cozinheira que ficava no Mineirão. Quando ele viu a mamãe sorriu e a abraçou”, lembrou emocionada. Segundo Eliane o segredo do sucesso é gostar do que faz e acreditar que vai dar certo. Depois um tempo fora, em 2006, elas participaram de uma nova licitação e hoje servem o tropeiro nos bares 13 e 15.
QUEDA
Com a proibição da cerveja durante os jogos, dona Vina diz que houve uma queda muito grande na receita do bar. “Antes vendíamos cerca de 800 refeições em dia de jogo bom, hoje apenas 250 (R$ 5)”, explica. Os torcedores já fizeram do tropeiro uma tradição. “Tem gente que chega no balcão e diz que só foi ao estádio para comer o tropeiro”, brinca. Pelo menos para o cobrador Elídio Cachoeira Filho, de 51 anos, tropeiro em dia de jogo “é de lei”. “ É muito bom, em todos os jogos que venho, antes de ir para a arquibancada, paro aqui e como meu tropeiro”, conta com o radinho no ouvido.

Depois de tantos anos, dona Vina se sente feliz e orgulhosa com suas conquistas. “ Nunca imaginei que chegaria onde cheguei. Minha única intenção com o tropeiro era criar minhas filhas. Hoje, vejo tantas pessoas que gostam da gente”. Mãe e filha se emocionam com a trajetória e quando Eliane diz que o reconhecimento é tão importante quanto o lucro, a mãe logo corrige: “ Não filha, tem que ganhar dinheiro senão não tem jeito”, diz com o sorriso nos lábios, a sabedoria de poucos e alegria de quem se sente com dever cumprido.