quarta-feira, 17 de outubro de 2007

SALVE AMARELO MANGA



Um filme que choca, causa reações extremas na platéia e fala muito sobre seu diretor. Sem meias palavras, o filme Amarelo Manga (lançado em 2003) dá seu recado e mostra realidade do povo brasileiro que muita gente faz questão de não ver. Economista por formação, o diretor Cláudio Assis, pernambucano e dono de personalidade inquieta, e há quem diga “atrevida”, mostrou na abertura da 3º Mostra de Cinema Comentada da Faculdade Estácio de Sá, nesta terça-feira, que filme se faz muito mais com realidade do que com a ficção. “Cinema é aquele que te leva para questionamentos fora da sala de exibição”, defendeu. Criticou as produções americanas, deu declarações polêmicas e foi sucinto em dizer: “Não importo que pirateiem meus filmes, se as pessoas compram um produto por 5 reais é porque não tem dinheiro para pagar 40. Pelo menos elas pode assistir ao filme. Se houvesse um DVD por 10 reais na loja, ele não compraria o pirata”.


Amarelo Manga é um filme direto nas ações. Une uma série de curtas de histórias que se entrelaçam na intriga e na rotina simples de alguns personagens. No elenco Matheus Nachtergaele (Dunga), Jonas Bloch (Isaac), Dira Paes (Kika), Chico Diaz (Wellington), Leona Cavalli (Lígia), Taveira Junior (Taxista), Conceição Camarotti, Cosme Prezado Soares, Everaldo Pontes, Magdale Alves, Jonas Melo. Personagens que ganham vida em atuações que envolvem vingança, intrigas passionais em rotinas cotidianas. Cenas que se passam na periferia de Recife repleta de adversidade e pluralidade. Para o diretor é preciso ser humano para entender e passar para a tela histórias que retratam esse universo. Sobre o excesso de palavrões e cenas eróticas, Cláudio Assis defendeu: “ Eu faço filmes falando de pessoas, tratando de pessoas. Todo mundo fala palavrão. O que existe é uma etiqueta. Todo mundo faz sexo, o problema é o jeito o sexo é usado pelo cinema”.


Fez duras críticas as produções americanas. Falou que os norte-americanos usam os filmes para influenciar as pessoas. Se colocou totalmente contra os roteiros de ação das megas produções que gastam milhões para contar um história que não reflete as questões sociais. Sobre Tropa de Elite, que estreiou esse mês nos cinemas de todo o país, Cláudio Assis foi enfático: “ Nem vou entrar no mérito da questão se o filme é bom ou não é, mas acho ridículo que uma produção brasileira tenha que se submeter ao que ela se submeteu para tentar participar do Oscar. Para nós, ganhar o Oscar não muda nada. A festa é deles, do cinema deles.


Muito aplaudido nas suas declarações, Cláudio Assis contou sobre sua história com a película e das dificuldades de fazer cinema em uma cidade que não possui escola e nem incentivo. “Mesmo em Recife que tem uma papel importante no cinema brasileiro encontramos inúmeras dificuldades. Não temos câmera 35 mm. Fazemos filme com união, lutamos contra o governo e conseguimos um incentivo fiscal na cidade para produções dos filmes. Amarelo Manga foi concursado, foi realizado com recursos públicos”, conta.

Disse sentir falta de bons críticos de cinema. De escolas que tem como objetivo ensinar sobre cinema e formar consciências críticas. Amarelo Manga foi premiado pelo Ministério da Cultura por produção com baixo orçamento. Com apenas 500 mil reais, Cláudio Assis mostrou que é possível fazer cinema de qualidade, e que apesar de cenas polêmicas é um filme que questiona nossa realidade em linguagem direta e objetiva. Com muita personalidade e com interpretações brilhantes, coleciona prêmios. Ganhou os Candangos de Melhor Filme, Melhor Ator (Chico Diaz), Melhor Fotografia e Melhor Edição, no Festival de Brasília. Ganhou também o prêmio de Melhor Fotografia, no Festival de Cinema Brasileiro de Miami, Prêmio Especial do Júri, para a atriz Dira Paes e prêmio no Festival de Berlim.


O diretor, que estreiou em maio desse ano o Filme Baxio das Bestas, abriu a Mostra Comentada de Cinema da Faculdade Estácio de Sá. Em sua terceira edição, apresenta até dia 19 curtas e longas brasileiros sempre com a presença de diretores e profissionais da área de artes visuais para comentar as obras. A mostra é aberta ao público e tem exibições de manhã e a noite.